Quero dizer: conseguir alcançar uma condição otimizada na vida em que você possa sentir-se feliz por mais tempo ou eventualmente, o tempo inteiro, é realmente possível? Avanços na área farmacêutica, ítens de consumo, psicotrópicos, redes sociais, nada parece suprir nossa demanda crescente pela felicidade. A questão é: você precisa mesmo ser feliz?
Me lembro de um trecho de um livro do Baumman (o sociólogo polonês), ele me chamou atenção pelo paralelo que ele fez entre esse ocorrido e a felicidade de hoje em dia, vou te contar.
Aparentemente é um tema que talvez não se pensa encontrar em um livro de sociologia. Pois bem, é a história de uma menina de 12 anos sobre sua incursão no mundo das compras. Esta mocinha comprou um short na loja TopShop, o qual no momento da compra gostou muito. Logo depois de voltar para casa e desembrulhar seu novo ítem, diz ter o odiado! Ele era muito curto e tinha mais algo que não sabia nomear. Depois de algum tempo ela viu este mesmo short ocupando as páginas de um editorial da revista Vogue. Ela conta que começou a adorá-lo, sua experiência de consumo a deixou mais feliz e desde então não se separa mais de seu short.
A idéia aqui é que a felicidade parece ser legítima apenas se acompanhada de um certificado.
Não tenho uma posição política sobre o consumísmo, apenas o vejo pelo espectro da psicanálise. Mas a questão aqui não é o consumismo, e sim a idéia de que a felicidade só é felicidade se estiver acompanhada por um alto índice de aceitação, ou em outras palavras, se ela for tendência.
É assim também com as nossas emoções em essência. De tempos em tempos é formado um "padrão" ou "modelo" amplamente aceito sobre como devemos nos sentir. Este padrão é posto em repetição quando vemos nossos amigos, familiares ou atrizes da tv se comportarem deste modo. Ser feliz e alegre é um padrão emocional dos tempos de hoje. Quando todos repetem o mesmo padrão de comportamento, este se torna o certificado de que você deve estar fazendo a coisa certa.
Não há nada de mal em ser feliz ou experimentar a sensação de bem estar. Mas quando se estabelece uma tirania em que a lei é ser feliz, demonstrar alegria, estar animado, e sempre ter um sorriso no rosto, isso pode se tornar um suplício. É como se houvesse uma obrigação em ser feliz. E por que então esse dever tão incomum nos foi dado se a vida tem seus dias neutros, tristes e difíceis? Teremos mesmo que sustentar uma aparência feliz todos os dias? Teremos que postar constantemente fotos maravilhosas nas mídias sociais para reforçar à nós mesmos a idéia de que temos uma vida feliz?
Aqui está sua solução: Se liberte do terrível fardo de tentar ser feliz o tempo inteiro. Além de ser impossível fisiológicamente, pode lhe trazer frustrações e mal-estar. Nós esquecemos que nascemos com outras emoções e que elas são (e foram) úteis até hoje em nossa sobrevivência no mundo. Tenha sempre em mente que os absolutismos tendem a deixar nossa vida mais pobre. E sim, a vida fica mais rica com a variedade.