Ter a experiência de ser escutado por alguém que se faz testemunha é algo muito importante para pessoas que viveram situações traumáticas. Ao contar histórias e compartilhar sentimentos nós encontramos uma forma de elaborar suas experiências.
A experiência que alguém pode ter quando faz terapia não se resume apenas à narrativa de sua dor e a escuta dela por um outro, é mais do que isso.
E também, é preciso reconhecer o paradoxo que se apresenta em casos em que dizer o indizível é algo que nem sempre é possível. Pode haver dificuldade de narrar o que é incomunicável, até mesmo para quem narra.
Mas então como falar sobre seus traumas pode ser algo terapêutico para alguém? Como o psicólogo ouve o relato do impossível, do indizível? Essas são algumas das questões que exploraremos neste artigo.
A história de alguém
Os relatos, histórias, lembranças de quem as conta podem ter descontinuidades porque surgem dos fragmentos da experiência e dos sinais de percepção de algo que pode ter sido chocante e que não se consegue entender ou elaborar.
Mas o mais importante é que alguém esteja disposto a ouvir e reconhecer a história contada, em um ambiente clínico ou comunitário que estejam disponíveis para discutir a dor e a confusão.
A narração da história pode transportar quem a narra para um estado de alteridade em que nos percebemos como um alguém "em separado", diferente do outro, longe de uma simbiose traumatizante.
Uma Testemunha
A testemunha não é apenas aquele que viu com os próprios olhos, mas também quem permanece presente e é capaz de ouvir a história.
É muito comum que a pessoa que tenha vivido um trauma se sinta confusa, sem saber o que é real e o que não é ou o que é adequado e o que não é. Encarar o bom como ruim e o ruim como bom. Ou então trazer consigo crenças antigas que não necessariamente ajudam em seu desenvolvimento.
A presença de uma pessoa que possa testemunhar a história contada, a dor e o sofrimento de quem a narra, é importantíssima para que possa haver recuperação e busca por sentido do que não faz sentido.
O psicólogo costuma desempenhar esse papel, permitindo que o paciente se sinta ouvido, compreendido e mais: que o paciente sinta seus sentimentos em relação ao trauma serem validados.
Donald Winnicott destacou a importância da regressão na análise, ou seja, permitir que o paciente volte a estados mais primitivos e infantis, a fim de revisitar traumas e conflitos não resolvidos.
Essa abordagem é fundamental para a recuperação do paciente, se atuada com respeito e calma, pois permite que o paciente lide com as emoções e sentimentos que foram reprimidos ou negados durante sua vida, e depois de processados, digeridos e transformados, voltar a se desenvolver como pessoa.
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